segunda-feira, 27 de junho de 2011

Saúde Mental (Cap. 10)

No estágio de saúde mental nós temos 2 opções, rir ou chorar. Eu optei por rir, vou explicar melhor. A mente humana é muito complexa e na sua fragilidade mais complexa ainda. Nós chegamos no campo de estágio sem nenhuma experiência com a doença mental, nos soltam dentro de um hospital especializado no assunto, trancam as portas e.... "se virem, coloquem na prática o que vocês aprenderam na teoria", ok, tudo bem, daria até certo se estívessemos tratando de pessoas mentalmente saudáveis, mas não é bem assim.... ou vocês pensam que é fácil cuidar da Madona, do Pelé, do Lula...é, essas foram algumas celebridades que eu encontrei no hospital psquiátrico. Tinha um samurai que pra conseguir chegar até ele, tinha que treinar golpes de defesa ou você seria seriamente machucada, até que ele reconheceu em mim um amigo antigo, o Jack Jan (nunca pensei na minha vida que um dia eu seria o Jack Jan), foi então que o samurai intocável conseguiu ser tratado, não foi fácil, todo dia tinha que simular uma luta.

De um paciente para o outro quanta diferença, saia o Jack Jan e entrava a Carla Perez, é porque o segundo paciente era o Xandy e eu consequentemente, Carla. Todo o meu lado atriz teve que ser revelado e pacientemente trabalhando para que os pacientes entendessem suas reais personalidades, trabalhando em mim também porque chegar em casa achando que era estrela estava ficando até comum...rsrsrsrs.

Tudo isso acontecia num pátio, na hora do lanche, portões trancados, só os estudantes e os pacientes. Uns querendo correr de medo, outros escondidos e outros de olho no portão pedindo a Deus pra o plantão terminar, me refiro aos estudantes é claro, porque para os pacientes era indiferente nossa presença lá.

Mais uma etapa difícil  e encantadora vencida, cheguei a conclusão que atuar não é meu forte. Foi um estágio rico no que diz respeito a mente humana, um pouco tenso, até porque tudo é muito novo. Sobrevivi... de médico e louco todo mundo tem um pouco.

Clínica 2 (Cap.9)

Clínica 1 é básico... duro é quando nos deparamos com a clínica 2, como se não bastasse o aperreio na clínica1. Aparece logo uma sonda de alívio, o medo de errar é tao grande que a luva nao entra, a sonda e escapa e na maioria das vezes é xixi pra todo lado e nem precisa comentar a reação do professor nesse momento né. Quando temos que aspirar um paciente a situação é mais tensa até porque ficamos os 2 sem ar, o paciente e eu...uma situaçõ desesperadora.
No curativo, o esparadrapo nunca quer grudar no canto certo, ele sempre gruda na luva, cola os meus dedos, fica naquele puxa-puxa, a luva rasga e quando nao voa nas costas do paciente, voa no nariz do professor, que nesse momento ja não é a pessoa mais feliz do mundo...(não sei qual é o pior).
E quando agente acha que a situação ja está ruim ela pode ficar pior, isso acontece quando agente escuta "paciente precisando de acesso venoso" ai Jesus... A veia conhece o estudante, essa é a unica explicação, na hora da punção é uma brincadeira sem graça de esconde-esconde de veia , é um fura daqui, fura dali e nada, agente sua, treme e a engraçadinha não aparece nunca, até que... yeeeaahh consegui! E depois de muita oração o trabalho é realizado com suceso. Clínica é assim do pavor ao amor em apenas 2 semestres.

Clínica 1 (Cap. 8)

Clínica!!! Primeiro estágio que estamos em contato direto com o paciente, realizamos todos os procedimentos com a orientação discreta do professor e estudo, muito estudo. Qualquer erro significa um puxão de orelha e aquela frase que todo estudante de enfermagem escuta "você tem que estudar mais", agente dorme e acorda escuatndo isso, fica gravado no subconsciente e nos acompanha até a morte.
Nos reunimos antes dos atendimentos para saber quais serão os pacientes e como proceder com cada necessidade apresentada e no fim do dia fazer a EVOLUÇÃO...para quem não sabe a evolução é quando escrevemos no prontuário do paciente todos os procedimentos realizados, seu estado de saúde geral, suas queixas...tudo, é praticamente uma biografia autorizada para leitores específicos de um local específico,que conta detalhadamente seus problemas vividos. Mas o dia so começa mesmo com os sinais vitais, os famosos (SSVV).
A princípio os ssvv são uma alegria, todas as meninas comprar o material novinho, coloca na bolsinha e vão alegres e eufóricas para verificar os sinais vitais até que chega 15º paciente e a coisa começa a perder a graça. A rotina é uma desgraça, destrói a novidade e os sinais vitais além de serem a obrigação se tornam o tormento da Enfermeira, realizar o mesmo procedimento em 30 pacientes não é la a melhor coisa do mundo.

Saúde Púlica (Cap. 7)

Bem... chegamos na saúde pública. E o que falar da saúde pública?? NADA! Não tem nada. Falta seringa, leito, luva, máscara, medicção.... Chama o Médico!!!! Está de greve.... Enfermeiraaaaaaaa! Está sem material...Trágico, mas é a realidade, sobra doente e falta etrutura, sbra vontade de ajudar e falta condições.
  A medicção da febre acabou...Ah, da um banho gelado...Banho gelado??? - Preparem o centro cirurgico com urgenciaaaa! Cortaram a luz, mais uma cirurga adiada sabe Deus para quando. Infelzmente é assim.
Pacientes sobem para seus leitos amarrados em macas com  ajuda dos acompanhantes porque o elevador não tem manutençõ a pelo menos 15 anos, a máquina dos exames explode e o paciente?? Morre...isso mesmo, morre. E o pior, nós temos que aprender a ser Enfermeira nessa triste realidade, aprendemos a improvisar para salvar, lutamos desde os estágios acadêmicos para proporcionar ao paciente pelo menos conforto, o mínimo de conforto para esses pacientes que muitas vezes estão esperano a morte chegar sentados no chão.
É revoltante, o coração chega em casa cansado, sofrido depois de um dia todo tentando amenizar uma dor, um sofrimento. O desgaste físico ja nao é mais sentido, o cansaço agora é o mental, a alma da Enfermeira adoece e chora porque o que pode ser feito é muito pouco.
Tudo isso é vivido nos estágios acadêmicos de saúde pública, os profissionais estão sendo treinados para trabalhar com a falta de material, de estrutura.... Quem sobrevive a essa realidade, ama a profissão e vai lutar até o fim por uma política de saude pública mais justa. Deus nos ajude a renovar nossas forças e vencer um dia de cada vez.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Centro Cirúrgico (Cap.6)

          Na primeira aula do centro cirurgico a professora se apresenta e diz : " Bom dia gente, hoje nós vamos aprender a desmair". Como assim aprender a desmaiar? O que é qeu eu vou ver la dentro? Eu continuo dentro sala ou corro? Derepente é brincadeirinha né.... Até que ela começa as instruções, ou seja, não é brincadeirinha. As instruçoes sao inacreditáveis, você esta se preparando pra uma tragédia acontecer na sua vida e a orientação é..." caia mas nao atrapalhe o decorrer da cirurgia" Socorro!!! Eu vou desmair e acordar sozinha?? Os médicos ja sabem disso?? Ja tem um cantinho na sala pra eu cair quetinha?? É impressionante mas essas perguntas não saiam do meu pensamento. Cômico, se não fosse trágico...
           Ja entrei no hospital tensa, o tempo todo lembrando do passo a passo de como desmaiar sem atrapalhar niguem e começa a preparação para a cirurgia. Troca-se a roupa branca pela privativa, um pijama verde que deixa qualquer um igual a um pepino, coisa horrorosa! Graças a Deus essa roupa acompanha a touca, a máscara, os protetores do pé, as luvas, acaba com a nossa identificação, essa é a parte boa, ninguem sabe quem é quem. E ainda tem gente que passa o dia com esse traje de um lado para o outro dentro do hospital, só pode ser um fugitivo da justiça que nao quer ser identificado.
             Mas enfim, começa a cirurgia e a primeira que eu assisto é um transplante de fígado. Confesso, nunca tinha visto ao vivo, a cores e a cheiros. Falo do cheiro porque depois de 4 horas cheirando pele queimada por bisturi elétrico você perde completamente a razão de existir. O sangue começa a sumir das pernas,o intestino e o estômago se unem inseparadamente num enjôo sem fim. Em alguns momentos cheguei a procurar o cantinho da sala para cair humilde e discretamente sem forças, mas não foi preciso ir até ele. A primeira experiência nao foi muito boa, o paciente nao resistiu a cirurgia e nem eu...cheguei em casa parecendo o sujeito operado sofri as consequências pós-anestesicas convaleci o pós-operatório alguns dias e hoje sou praticamente transplantanda do fígado. Isso é que da viver intensamente todos os momentos.
        

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Obstetrícia (Cap.5)


                                                        

      O choque! Não como estudante de enfermagem, mas como mulher. Defender o parto natural só vendo pela TV é uma coisa, continuar defendendo depois de ter participado de um é outra completamente diferente.
      Essa realidade por algum tempo foi muito distante , nos detemos apenas a teoria até que acordamos e nos deparamos com uma sala de parto natural. Dezenas de leitos, um ao lado do outro  separados apenas por cortinas, dezenas de mulheres gritando, outras orando e outras num silencio sepulcral , extremamente determinadas a ignorar a dor .
      Normalmente este estágio é feito pela manha, hora não muito adequada porque agente acorda na base do susto. As portas se abrem os gritos são ouvidos e a voz da professora enfatiza “A paciente entrou em trabalho de parto, vamos lá agora é a sua vez de auxiliar o parto”. O chão abre, as pernas tremem, os primeiros auxílios são cheios de receio.
          Nos é indicado acalmar a paciente enquanto as contrações estão acontecendo...Como é que eu vou acalmar alguém se o meu nervosismo é maior que ó dela? As palavras nunca saem com tanta firmeza até o momento que avistamos a cabeça! Meu Deus, uma cabeça!!  E em segundos pula fora um corpo inteiro que chora desesperadamente querendo voltar p o quentinho...é inevitável um sorriso aparecer  . É lindo...tão lindo!
        Enfim o parto termina e parece que quem teve a criança foi eu, dói as pernas, as costas, os braços , a barriga, a concentração é tanta que agente acaba vivenciando cada fase do parto. O parto natural continua sendo o mais indicado, é o mais dolorido, mas também é o mais saudável.... Se eu vou ter um parto natural?...Prefiro não comentar rsrsrsrs.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aprendendo a ser Enfermeira (Cap.4)

Não nascemos enfermeiros. Colocar corretamente uma luva cirúrgica é uma missão quase inalcançável . Nas aulas de procedimentos elas voam, escapam das mãos, não encontramos os dedos. Quando não falta dedo, sobra, nunca acertamos de primeira.      
     Quando nos acostumamos com essa pratica surgem as luvas estéreis. Outro tormento. Essas luvas  ate para abrir o pacote tem técnica, não podemos tocar em nada, tudo é muito limpo. Seria mais fácil se houvesse uma mágica do tipo...abrimos o pacote e “alacazan”, eles saltam em nossas mãos num movimento de encaixe perfeito e sem contaminar. Isso nunca acontece, ficamos horas tentando não contaminar a luva e só saímos da sala quando o professor confere toda a técnica. Paciência invejável.
     Entramos e saímos da sala 500 vezes até cumprimentar o cliente corretamente. Nesse momento, todo o lado atriz tem que aparecer e as sete horas da manhã estou eu, batendo na porta e sorrindo para um boneco tendo que tratá-lo como gente e dizer : - “Bom dia senhor Antônio, sou acadêmica de enfermagem, me chamo Danielly e estarei no plantão, qualquer problema é só me chamar”.Se gaguejar volta, se errar o texto volta, se não sorrir, volta. Pobre boneco há 15 anos escuta o mesmo discurso todos os dias.
   Cada detalhe é muito treinado, estudado meticulosamente. O costume de por qualquer motivo botar a mão na boca tem que sumir e o de lavar as mãos a cada cinco minutos tem que surgir. Os cabelos presos, o sapato é fechado, os brincos pequenos, sem adorno, relógio só dentro do bolso, as unhas sempre curtas e claras, vermelho nunca mais, só nas férias. Ou seja, vaidade passa longe vira a esquina e da tchau.
   O primeiro estetoscópio, aparelho de pressão, termômetro, fita métrica, lanterna ... Tudo é novidade, festa. O esteto vai para o pescoço como se fosse uma medalha, o estudante de enfermagem se divide em cabeça, tronco, membros e esteto, o  restante do material vai numa bolsinha que carregamos para todos os lugares e o álcool gel é o nosso mais novo batom, não podemos sair sem ele.
    É muita informação para tão pouco tempo de curso. As medidas a serem tomadas são radicais, mas logo nos adaptamos e o costume torna-se um grande amigo. O conhecimento salta aos nossos olhos de uma maneira tão interessante, que o restante vira algo irrelevante, secundário. Quando a enfermagem nos abraça fica difícil não se apaixonar por ela.